(UPE-2016)
Enquadram-se os três sonetos em distintos Movimentos Literários. Leia-os e analise-os.
Poema 1
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
(Álvares de Azevedo, Lira dos 20 anos)
Poema 2
A Morte
Oh! a jornada negra! A alma se despedaça...
Tremem as mãos... O olhar, molhado e ansioso, espia,
E vê fugir, fugir a ribanceira fria
Por onde a procissão dos dias mortos passa.
No céu gelado expira o derradeiro dia,
Na última região que o teu olhar devassa!
E só, trevoso e largo, o mar estardalhaça
No indizível horror de uma noite vazia...
Pobre! por que, a sofrer, a leste e a oeste, ao norte
E ao sul, desperdiçaste a força de tua alma?
Tinhas tão perto o Bem, tendo tão perto a Morte!
Paz à tua ambição! paz à tua loucura!
A conquista melhor é a conquista da Calma:
- Conquistaste o país do Sono e da Ventura!
(Olavo Bilac)
Poema 3
A Morte
Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!
Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem…
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.
Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.
Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro a baixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando…
(Cruz e Sousa)
A leitura dos poemas comprova que o tema da morte tanto quanto o tema do amor estão presentes em textos de todos os movimentos literários e em produção de diferentes poetas. Nos três poemas, o tema da morte é ponto fundamental. Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
Álvares de Azevedo, em diversos poemas, ao falar da morte, tema pelo qual tem certa obsessão, usa constantemente a palavra palor, cujo sentido cromático se refere à palidez mórbida da morte, característica da poesia desse autor.
Olavo Bilac toma a morte muito poucas vezes como tema, ainda que, ao fazê-lo, cria um eu lírico despojado de tom confessional, próprio do Romantismo, mantendo assim imparcialidade e impessoalidade.
O poema 3 apresenta elementos cromáticos e sinestésicos, tais como doce tristeza e noite escura. Contudo, embora seu tema seja a morte, o autor não utiliza esse vocábulo, substituindo-o por metáforas, o que é próprio daqueles que fazem parte do parnaso.
Há, no poema 2, determinados elementos que revelam, à semelhança do 3, preocupação com os aspectos formais, aproximando-os do Classicismo e do Arcadismo.
Existe uma ordem sequencial dos poemas que permite ao leitor relacioná-los ao Simbolismo, Romantismo e Parnasianismo. Dessa forma, pode-se afirmar que o poema 1 é simbolista, pois apresenta um discurso de cunho confessional, peculiar a esse Movimento Literário.